Pure Hell, a primeira banda punk negra

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Em 1974 e 1975 o Death gravou músicas que anteciparam a existência do punk rock, com uma identidade sonora muito madura. Punk antes do punk nascer, mas não era punk. Em 1978 e 1979, os Bad Brains já estavam tocando em clubes e construindo o que seria batizado de hardcore punk. Mas entre a obscuridade de Death e a consagração de Bad Brains, existiu uma banda chamada Pure Hell.

Como Death e Bad Brains, eram negros todos os membros do Pure Hell. Os primeiros passos foram dados em 1972, mas só dois anos depois a banda tomou forma e, de Pretty Poison, passou a se chamar Pure Hell. Na época Spider, Stinker, Chip Wreck e Lenny Still eram jovens recém-formados no ensino médio. Enquanto seus conterrâneos da Filadélfia, The Delfonics e The Stylistics, que consagravam a maciez do philly soul (sonoridade da soul music típica da Filadélfia), os caras fizeram o contrário. Mais básico e mais agressivo. Segundo Stinker, líder da banda, a agressividade era reflexo das tragédias dos anos 1960, quando líderes como Kennedy, Malcolm X e Luther King foram assassinados em público. Logo no primeiro ano da Pure Hell, 1974, se mudaram para Nova Iorque pois sabiam que lá havia o cenário ideal para se tornarem uma grande banda. Rapidamente estabeleceram contato com Johnny Thunders (guitarrista do The New York Dolls), que viu o potencial dos caras, então invadiram a cena local com tudo. Fizeram parte da primeira geração de bandas punk, ao lado dos também americanos The Dead Boys, Richard Hell & The Voidoids, entre outras.

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Sem perspectivas de crescimento em seu próprio país, a banda foi tentar a sorte na Inglaterra após ser descoberta pelo empresário Curtis Knight (o mesmo sujeito que fez os primeiros contatos e contratos de Hendrix por lá). Lá gravaram o single “These Boots Are Made For Walking”/”No Rules”, que alcançou um bom número de vendas na seção punk. A dificuldade de inserção de uma banda 100% negra somada ao marketing inconveniente de Knight acabaram atrapalhando ainda mais a trajetória do Pure Hell. Não bastando o racismo que enfrentavam – a despeito do mito que trata o punk como um espaço onde não existe discriminação – a própria propaganda dos shows os descrevia “The world’s only all-black punk band”, fazendo a banda ser analisado por um ponto de vista exótico, não puramente musical. Em 1978 conseguiram gravar o álbum “Noise Addiction”, mas por problemas com Curtis Knight, o álbum não foi lançado. Voltaram aos EUA, onde fizeram mais shows, tocando inclusive com Sid Vicious, poucas semanas antes de sua morte. Em 1980, o Pure Hell termina. Muitas histórias e poucos registros.

Em 1990, com exceção do baterista Spider, os membros do Pure Hell se reuniram e, dois anos depois, gravaram outro álbum, “The Black Box”, com produção de Lemmy (Motörhead) e antigos membros do LA Guns e Nine Inch Nails. Por coincidência, as gravações aconteceram durante os conflitos de 1992 em Los Angeles, com a população negra se revoltando contra a brutalidade policial. Mas o álbum, assim como o primeiro, não foi lançado. Alguns anos após a morte do ex-empresário Curtis Knight, os remanescentes do Pure Hell conseguiram as fitas e direitos do seu primeiro disco, “Noise Addiction”, de 1978. Em 2005, finalmente deram ao público o registro sonoro dessa banda lendária do punk rock.

O Pure Hell voltou oficialmente a ativa em 2012 e anda fazendo shows por aí. O “Noise Addiction” completo está disponível aqui. Apesar de “The Black Box” nunca ter sido lançado, o vocalista Stinker nos presenteou disponibilizando algumas faixas do álbum aqui.

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