Meu encontro com o Street Etiquette

Conheci o Street Etiquette no final de 2009 e, na época, o blog já era bom e promissor. Em 2010, acompanhei o estilo deles transcender para algo superior. Foi quando passei a admirá-los ainda mais. Certa vez, Joshua Kissi expressou seu desejo de visitar o Brasil, e foi aí que fiz contato com ele pela primeira vez. No mês passado, recebi uma mensagem sua, dizendo que o Street Etiquette viria ao nosso país por conta de um projeto com a Puma e perguntando se eu podia acompanhá-los, para mostrar alguns lugares durante a visita. Topei. A partir daí, nos tornamos amigos.

Em uma de nossas conversas, mostrei a ele o Ubora. Joshua disse que já havia visitado e lido as minhas postagens com a ajuda de um tradutor, mas não sabia que o blog era meu. Falou que, atualmente, é um dos poucos blogs que ele realmente aprecia e gosta de visitar. Foi uma grande surpresa para nós dois, mas principalmente para mim. Uma tremenda alegria! E ele viria a confirmar o quanto gosta do meu blog em nosso primeiro encontro.

Joshua Kissi e Travis Gumbs desembarcaram no Brasil no dia 16 de abril, juntamente com os outros membros do projeto da Puma. Na noite seguinte, fui convidado por Joshua a comparecer ao Puma Bar. Levei comigo meu amigo Kibe, que também estava de passagem pelo Brasil (Ele mora em Nova Iorque, onde está fazendo o seu doutorado). Além de finalmente ter conhecido o Kibe pessoalmente, encontramos Joshua e Travis. Pude confirmar que os dois residentes do bairro do Bronx, em Nova Iorque, eram caras muito legais e simples.

Nesse mesmo dia, Joshua confessou um certo descontentamento: não via negros nos lugares que visitou. Percebeu rapidamente que a desigualdade racial no Brasil é óbvia e que só não vê quem não quer. Os poucos negros que ele viu estavam servindo bebidas ou limpando os quartos do hotel. Então, pediram para que eu os levasse a um lugar de verdade, onde pudessem ver negros, pessoas comuns, ver o que os paulistanos normais faziam. Realmente, não dá pra enxergar a verdadeira São Paulo, a São Paulo das pessoas de verdade, visitando a Rua Oscar Freire, comendo em restaurantes caros e andando de táxi. No dia seguinte, fomos ao Parque do Ibirapuera visitar ao Museu Afro. E, claro, como todo paulistano normal, usamos o transporte público. Saímos do hotel onde estavam hospedados, andamos, fizemos um bilhete único para cada um, pegamos o metrô, um ônibus e chegamos ao parque. O barulho do clique da câmera era constante: os caras tiram fotos e fazem vídeos a qualquer hora e em qualquer lugar. Logo que chegamos ao museu ficaram fascinados. Falei sobre os cangaceiros, Zumbi e o Quilombo dos Palmares, as escolas de samba, a capoeira, o choro. Apesar do meu inglês fraco, a comunicação fluiu tranquilamente, para a minha surpresa.

Foi um encontro inspirador e emocionante. Esses caras me influenciaram bastante em vários sentidos e sou um grande admirador do trabalho que fazem. Mas o Street Etiquette traz algo muito mais profundo do que apenas roupas. Joshua e Travis trazem novas opções e perspectivas aos jovens pretos. Foi ótimo poder ver os caras em ação, fazendo o que fazem de melhor. Mas o melhor de tudo foi ter firmado uma relação de amizade com Josh e Trav. Boas pessoas. Infelizmente, não pude mostrar a eles mais lugares, mais comida, mais cultura brasileira e o Jardim Brasil (Eles queriam conhecer o meu bairro, que tem o apelido de “J. Bronx” – bela coincidência, já que eles moram no bairro do Bronx), por conta de seus compromissos com o projeto da Puma. Mas, com certeza, nos encontraremos novamente.

Etiqueta das ruas!

16 respostas em “Meu encontro com o Street Etiquette

  1. Ótima escolha ao levá-los ao Museu Afro, Jun! Aquele lugar é maravilhoso e emocionante, carregado das mais diferentes energias. “Percebeu rapidamente que a desigualdade racial no Brasil é algo muito óbvio e que só não vê quem não quer.” Triste, mas no Brasil parece que os negros se resignaram ao estereótipo – ou seria estigma? – histórico. É foda. Muita gente ainda contribui para reforçar isso, seja branco ou negro. O que vejo com mais frequência é um “sou negro mas não queria ser”.

    • Sim, Li. Só que quem produz esse tipo de pensamento é o branco. O negro reproduz. Um negro com esse pensamento atrapalha, mas ele é vítima tanto quanto os outros negros. A diferença é que um escapou das amarras e se aceita, o outro não. A não-aceitação é auto-ódio, e não é produzida pelo negro para atacar outro negro. É produzida pela cultura branca, através do domínio dos meios de comunicação, do mundo corporativo etc.

  2. Muito legal, Jun. O Museu Afro é excelente. Gosto Muito.
    Falando em viagens: Spike Lee está no Brasil para produzir um documentário – Go Brazil Go! -, e acompanhar o julgamento sobre cotas na universidades públicas. O tema cotas, acabou se tornando terreno fértil para que alguns mais comuns e silenciados preconceito aparecer e se tornar algo comum nas Redes Sociais – assim como a xenofobia contra o nordeste. Horrível.
    Fomos escravizados durante 3 séculos e meio e a elite branca querem negar cotas na universidade. São uma minoria, mas perigosa e com bastante poder, mas como diria nossos irmãos Racionais MC`S: “A juventude negra agora tem a voz ativa[…] Chega de festejar a desvantagem e permitir que desgastem a nossa imagem.”
    “Uma sociedade com 90% de negros miseráveis e 10% de brancos ricos, mesmo se nenhuma dessas pessoas for “racista”, mesmo se todos acreditarem completamente na igualdade absoluta entre as raças, ainda assim será estruturalmente e intrinsecamente uma sociedade racista.” – Por Alex Castro.
    Viva Zumbi. Viva Malcolm X.. Viva a Cultura Negra que carrega o fardo da escravidão até os dias atuais.

    Abraços e estamos aí.

  3. é muito bom ver espaços como este onde nós podemos fugir dos esteriótipos, conheci o Ubora através do Kibe, e o street etiquette através do Ubora, ou seja a corrente de informações dos “pretos esclarecidos” está aumentando, tenho fé que ela vai ficando cada vez mais forte, mais eficaz a ponto de não acharmos espaços como estes tão únicos e especiais! Ótimo post como sempre!

  4. Pingback: STREET ETIQUETTE

  5. Jun, sinceramente, não me surpreendo…esse reconhecimento todo é mais do que esperado, é merecidíssimo! Parabéns pelo trabalho bem feito! Não é novidade mas só pra confirmar: sou fã!

  6. Nuss, nao sei nem como começar, na verdade adoro o street etiquette, acompanho a postagem deles a um tempinho e quando vi o post deles sobre sp, brasil, achei incrivel, sou paulista trabalho com moda mais no momento to em paris, enfim vi seu comentario no blog deles e entrei no seu que por sinal infelismente nunca tinha entrado! Fiquei deslumbrada, adorei seu blog, adoro e tiro muitas influencias da cultura afro; apesar de trabalhar com moda praia femina, minhas grandes inspiraçoes sao masculinas… Enfim adorei seu blog adorei, e a incrivel experiencia que voce teve com os caras, pode ter certeza que ganho uma visitante assidua do seu blog e poxa, adoraria te conhecer ai nesse brasil maravilhoso! Daqui 2 meses estarei ai e seria um grande prazer “partager un peu de la vision sur la mode avec toi”.

    Bisous et à bientôt!

  7. Que grande história, eu conheci recentemente o Street Etiquette e me encantei com o trabalho dos caras. Parabéns, você também tem algo fantástico no seu blog.

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